Visão Econômica sobre a Crise do Coronavírus no Brasil
Confira o comentário do economista e professor Igor Barenboim sobre a situação do Brasil diante da pandemia do Coronavírus (COVID-19).
O que está acontecendo e como se resolve?
• Novo vírus causa mortalidade intolerável se sociedade moderna continuar funcionando normalmente. É preciso agir.
• O problema é que não temos infraestrutura de saúde suficiente para atender os casos graves
• Mais especificamente precisamos de mais leitos de UTIs e ventiladores mecânicos do que o disponível hoje.
• Soluções possíveis são a quarentena até:
• aumentar a infraestrutura médica
• Encontrar tratamento para mitigar letalidade
• Vacinar toda a população
• Problema é que ninguém sabe quanto tempo isso demora e portanto o aumento do prêmio de risco.
O impacto econômico é pior que outras crises?
• Sim porque estamos vivendo dois choques simultâneos de oferta e demanda
• Pessoas em lockout não trabalham
• Produtividade em home office ainda é baixíssima.
• Medo e pânico retardam consumo e investimento.
• O efeito é muito maior que o de 2008
• O remédio tem que ser maior.
• O mecanismo de mercado NÃO FUNCIONA para alocar recursos em tempos excepcionais
• PIB do 1º tri deve sofrer pouco porque o choque bateu na metade do 3º mês. PIB do 2º tri deve cair pelo menos 4% dessazonalizado. PIB no ano deve ficar no entorno de -1%.
• Mas previsão agora é profissão de risco! As coisas mudam a cada hora.
Como está a reação do governo brasileiro?
• Muito tímida! O governo ainda não entendeu o tamanho do problema.
• A agenda liberalizante era muito importante e positiva em termos de paz.
• Mas em tempos de guerra o mecanismo de mercado não funciona. Estamos em guerra com um inimigo invisível. O Sr. Coronavírus.
• O mercado não vai construir hospitais, leito de UTI a tempo.
• Alguém que financiar um empreendimento agora?
• Os recursos precisam ser mobilizados de forma centralizada para o objetivo.
• E as pessoas precisam ter seus empregos e sua dignidade preservada
• Os negócios que as pessoas construíram precisam ser salvos. Evitando a destruição permanente de capital.
• Caso não se faça isso, haverá uma perda da capacidade de oferta do país com os trabalhadores indignos e as empresas falidas. De modo que passando a crise, o PIB não retorna para o patamar anterior rapidamente.
Quais medidas precisam ser tomadas?
• Tem que usar o arsenal completo de medidas fiscais e monetárias! Não tem desalinhamento de incentivos ou mau exemplo (moral hazard)! EUA e EU já estão fazendo isso. Eventualmente a gente chega lá.
• Fiscal:
• Prorrogação de impostos
• Fazer o dinheiro chegar diretamente ao cidadão para garantir a sua sobrevivência (Helicopter Money)
• Extensão do seguro desemprego por período mais prolongado
• Monetária:
• Estabilização dos mercados financeiro e creditício. A vol precisa diminuir. Os preços não significam muita coisa num momento de pânico.
• Mercado de crédito precisa funcionar, as empresas que eram saudáveis até o vírus precisam poder continuar a existir. Tem que usar aval do Tesouro para promover isso.
• Não é questão de preço. A Selic mais ou menos 100 pontos base não muda muito. Quando há crise e pânico o problema é de quantidade.
Há luz no fim do túnel
• China já mostrou que é possível domar a fera
• Já há notícias de tratamentos possíveis Hidroxicloraquina e fapiravir
• Já há notícias de vacinas em testes.
• Finalmente os governos entenderam o receituário e estão tomando as providencias.
• Em geral as crises começam com um problema e o mercado ignora. Depois o mercado pânico e o governo ignora, em seguida o governo reage e o mercado não acredita. Finalmente a reação funciona e a coisa estabiliza.
• Estamos na penúltima etapa.
• Teremos um mundo novo no final do processo. Mais endividado e um potencial de crescimento menor por um período dada a destruição de capital que terá ocorrido no período. Mas os preços dos ativos de mercado mais que refletem isso hoje em dia.