{"id":263,"date":"2020-04-24T12:28:52","date_gmt":"2020-04-24T15:28:52","guid":{"rendered":"https:\/\/igorbarenboim.com.br\/?p=263"},"modified":"2022-08-05T18:29:44","modified_gmt":"2022-08-05T21:29:44","slug":"desastres-raros-e-a-oportunidade-no-mercado-de-ativos-financeiros","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/igorbarenboim.com.br\/pt-br\/desastres-raros-e-a-oportunidade-no-mercado-de-ativos-financeiros\/","title":{"rendered":"Desastres Raros e a Oportunidade no Mercado de Ativos Financeiros"},"content":{"rendered":"
Um dos principais argumentos para se investir em bolsa \u00e9 o fato de que, nos \u00faltimos 100 anos, nas principais economias do mundo, as a\u00e7\u00f5es renderam, em m\u00e9dia, 7% a.a. a mais que os t\u00edtulos governamentais. O primeiro trabalho a documentar essa hist\u00f3rica superioridade brutal do retorno das a\u00e7\u00f5es foi Mehra e Prescott, em 1985. A diferen\u00e7a \u00e9 t\u00e3o expressiva e de dif\u00edcil concilia\u00e7\u00e3o com a teoria econ\u00f4mica \u00e0 \u00e9poca vigente, que os economistas cunharam o seguinte termo para descrev\u00ea-la: \u201cEnigma dos Retornos Exacerbados das A\u00e7\u00f5es\u201d.<\/p>\n
Ao longo dos anos que se seguiram, muita teoria econ\u00f4mica foi escrita para conciliar os retornos exacerbados das a\u00e7\u00f5es em prazo longo. As principais explica\u00e7\u00f5es para o fato tiveram duas vertentes principais: (i) a explica\u00e7\u00e3o comportamentalista, baseada, principalmente, na Teoria do Prospecto, criada por Khaneman (Nobel em 2002) e Tversky, e (ii) a l\u00f3gica dos desastres raros, promovida pelo professor de Harvard Robert Barro a partir de 2005.<\/p>\n
A explica\u00e7\u00e3o comportamentalista, mais combatida inicialmente, mas hoje com muitos adeptos, se baseia na ideia de que as pessoas detestam perder, proporcionalmente mais que do que gostam de ganhar. Mais especificamente, perder R$100 deixa os indiv\u00edduos proporcionalmente mais tristes do que se ganhassem essa mesma quantia. Al\u00e9m disso, essa diferen\u00e7a se aprofunda quanto maior o valor envolvido – pense em perder milh\u00f5es versus ganhar milh\u00f5es.<\/p>\n
As a\u00e7\u00f5es s\u00e3o ativos de alta volatilidade e risco de perdas moment\u00e2neas grandes, portanto, seguindo a l\u00f3gica comportamentalista de que pessoas detestam desproporcionalmente perder a ganhar, a\u00e7\u00f5es tem que ser negociadas no mercado com desconto. Se elas s\u00e3o negociadas por menos do que valem, elas exibem, no longo prazo, retornos extraordin\u00e1rios. Outro componente comportamentalista que amplifica esse efeito \u00e9 o fato de que os indiv\u00edduos esquecem de riscos que n\u00e3o aconteceram recentemente. Em geral, s\u00f3 se compra seguro contra enchente depois de uma grande enchente. Ent\u00e3o, quando faz muito tempo que uma crise ocorreu, o desconto necess\u00e1rio para as pessoas quererem carregar as a\u00e7\u00f5es diminui e, por isto, elas sobem de pre\u00e7o. Por esse efeito, o pior momento para deixar de ter a\u00e7\u00f5es em seu portf\u00f3lio \u00e9 logo ap\u00f3s uma crise.<\/p>\n
A explica\u00e7\u00e3o dos desastres raros n\u00e3o depende de hip\u00f3teses sobre o comportamento humano quanto a ganhos e perdas. Ela trabalha com a l\u00f3gica de que esse retorno superior das a\u00e7\u00f5es \u00e9 necess\u00e1rio porque acontecem desastres raros e, nesses momentos em que voc\u00ea mais precisa de recursos, eles est\u00e3o em ativos que perdem valor profundamente. No s\u00e9culo XX, tivemos a grande depress\u00e3o de 29, a guerra civil espanhola, as Grande Guerras mundiais, eventos que destru\u00edram capital profundamente e reduziram o PIB dos pa\u00edses entre 15% a 64% no ano em que ocorreram. Barro estimou que a probabilidade de um desastre raro \u00e9 pouco menor de 2% ao ano e, ao se colocar isso na conta, as a\u00e7\u00f5es n\u00e3o tem retorno extraordin\u00e1rio, mas sim um desempenho justo.<\/p>\n
Ao que tudo indica, estamos vivendo exatamente um desastre raro causado pelo COVID-19, evento que acontece em m\u00e9dia a cada 50 anos. \u00c9 fato que haver\u00e1 destrui\u00e7\u00e3o de capital – e os pre\u00e7os dos ativos j\u00e1 reflete isso em boa medida. Mas, como todos os outros desastres raros, esse tamb\u00e9m ir\u00e1 passar e as empresas voltar\u00e3o a gerar lucro e retornos extraordin\u00e1rios. Elas ficar\u00e3o em pre\u00e7os relativamente promocionais at\u00e9 que a mem\u00f3ria do desastre comece a se perder. Nesse sentido, como investidores, \u00e9 hora de, com muita prud\u00eancia e boa an\u00e1lise, irmos \u00e0s compras de a\u00e7\u00f5es de boas empresas que sair\u00e3o desse choque mais fortes e oferecendo alto retorno.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
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