{"id":422,"date":"2021-07-13T17:30:18","date_gmt":"2021-07-13T20:30:18","guid":{"rendered":"https:\/\/igorbarenboim.com.br\/?p=422"},"modified":"2021-07-13T17:30:18","modified_gmt":"2021-07-13T20:30:18","slug":"aprenda-sobre-seus-impulsos-e-emocoes-antes-de-investir","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/igorbarenboim.com.br\/pt-br\/aprenda-sobre-seus-impulsos-e-emocoes-antes-de-investir\/","title":{"rendered":"Aprenda sobre seus impulsos e emo\u00e7\u00f5es antes de investir"},"content":{"rendered":"
No mundo do \u201cfintweet\u201d<\/em>, opini\u00f5es financeiras s\u00e3o disseminadas em profus\u00e3o nas redes sociais. Cursos de como ganhar dinheiro r\u00e1pido com ativos financeiros, inclusive com estrat\u00e9gias de negocia\u00e7\u00e3o di\u00e1ria \u2013 day trade – viraram lugar comum nas plataformas digitais.<\/p>\n Encantados com a inclus\u00e3o financeira de milh\u00f5es de pessoas no Brasil\u00a0 – s\u00f3 entre maio\/20 e maio\/21 foram mais de 50% de novos CPFs segundo a B3, passando os 3,5 milh\u00f5es de brasileiros investidores e expostos \u00e0 volatilidade do mercado -, mas muito atentos sobre as armadilhas na arte de investir fartamente documentadas na literatura econ\u00f4mica e financeira, eu e a minha irm\u00e3 Iana, tamb\u00e9m economista, come\u00e7amos a conversar sobre algumas premissas, fizemos algumas anota\u00e7\u00f5es e acabamos escrevendo um livro.<\/p>\n Nas \u00faltimas tr\u00eas d\u00e9cadas, a ideia de que o mercado financeiro \u00e9 eficiente foi perdendo for\u00e7a entre os economistas. Hoje j\u00e1 \u00e9 bastante aceito que os indiv\u00edduos tomam decis\u00e3o de modo enviesado, gerando excessos de pre\u00e7os, por vezes bolhas financeiras que terminam por distorcer a aloca\u00e7\u00e3o de investimentos com consequ\u00eancias negativas para o desenvolvimento econ\u00f4mico.<\/p>\n O crash da bolsa americana de 1987 foi bastante importante para impulsionar a mudan\u00e7a do consenso acad\u00eamico sobre o tema. Na \u00e9poca, a bolsa caiu 22% em um dia sem nenhuma explica\u00e7\u00e3o aparente. Mais curioso foi o fato da NYSE ter fechado o ano de 87 no mesmo patamar que come\u00e7ou, com flutua\u00e7\u00e3o de mais de 20% para ambos os lados.<\/p>\n Daniel Khaneman (ganhador do pr\u00eamio Nobel) e Amos Tversky documentaram uma s\u00e9rie de vieses comportamentais dos indiv\u00edduos na hora de tomar decis\u00e3o. O artigo mais famoso \u00e9 de 1979 e aborda a avers\u00e3o a perda.<\/p>\n Esse vi\u00e9s de comportamento \u00e9 famoso por induzir as pessoas a n\u00e3o quererem vender seus ativos ap\u00f3s uma perda, por outro lado, ele induz a realiza\u00e7\u00e3o de lucros em cima dos ativos que se valorizaram. Na vida real \u00e9 dif\u00edcil as pessoas decidirem vender um im\u00f3vel por um pre\u00e7o inferior ao que elas pagaram. Voc\u00ea venderia sua casa por pre\u00e7o menor que voc\u00ea pagou? Com as a\u00e7\u00f5es acontece a mesma coisa: ningu\u00e9m quer vender as a\u00e7\u00f5es que ca\u00edram. Mas todo mundo topa vender as que subiram, colocar na cabe\u00e7a que tiveram lucro e usar os proventos para a viagem dos sonhos. Ignorar perdas e contabilizar lucros traz felicidade moment\u00e2nea, mas como estrat\u00e9gia de investimento \u00e9 perigoso.<\/p>\n Em 1990, Shleifer e co-autores apresentaram a ideia de que havia limites a arbitragem. Ficou famoso o caso da disparidade dos pre\u00e7os das a\u00e7\u00f5es da Royal Dutch, com a\u00e7\u00f5es negociadas no mercado holand\u00eas e da Shell negociada no mercado ingl\u00eas. Ap\u00f3s a fus\u00e3o das companhias, ativos id\u00eanticos negociados em mercados l\u00edquidos tinham pre\u00e7os diferentes. O que poderia explicar isso? A ideia \u00e9 que simplesmente a falta de garantia de que os pre\u00e7os v\u00e3o convergir pode criar risco e, portanto, isso \u00e9 raz\u00e3o suficiente para pre\u00e7os de ativos iguais terem pre\u00e7os diferentes. Basta termos uma parcela de investidores que n\u00e3o tomam sua decis\u00e3o com base em informa\u00e7\u00f5es dispon\u00edveis para que isso aconte\u00e7a.<\/p>\n Nos anos 90 e 2000, com a disponibilidade computacional, criou-se uma farta literatura que documentou a correla\u00e7\u00e3o dos retornos dos pre\u00e7os das a\u00e7\u00f5es. Mostrando que as a\u00e7\u00f5es que subiam, continuavam a subir por seis a doze meses e, eventualmente, ap\u00f3s tr\u00eas anos, seus retornos convergiam para a m\u00e9dia.<\/p>\n Ficou documentado na literatura dois padr\u00f5es muito recorrentes no folclore de Wall Street e que j\u00e1 haviam sido descritos alegoricamente no livro de Edwin Lef\u00e8vre: Reminisc\u00eancias de um Especulador Financeiro, de 1923.<\/p>\n S\u00e3o padr\u00f5es hoje comumente ensinados em cursos de como investir: padr\u00f5es de curto prazo, em que as a\u00e7\u00f5es que sobem, devem continuar a subir, podem ser associados a estrat\u00e9gias grafistas e de extrapola\u00e7\u00e3o de tend\u00eancias. E que tamb\u00e9m podem ser associados a comportamentos de manada: voc\u00ea vai almo\u00e7ar no clube domingo e seu filho fala para voc\u00ea que o amiguinho est\u00e1 indo para Disney porque o pai dele comprou Bitcoin. Voc\u00ea se v\u00ea compelido a comprar tamb\u00e9m. Afinal, quem n\u00e3o quer levar o filho para Disney.<\/p>\n O outro \u00e9 a revers\u00e3o \u00e0 m\u00e9dia. As a\u00e7\u00f5es que v\u00e3o bem por um tempo porque todos ficam muito otimistas com seu futuro eventualmente encontram reveses em m\u00e9dia e acabam tendo retornos mais modestos. Essa ideia foi propagada pelo Warren Buffet e defendida inicialmente por Graham e Dodd em 1934. \u00c9 o famoso investimento fundamentalista em empresas que est\u00e3o baratas. Em 1992, Fama e French demonstraram que empresas baratas tendem a ter retorno superior. Isso tamb\u00e9m \u00e9 bastante ensinado nos cursos de investimento.<\/p>\n Existem v\u00e1rias estrat\u00e9gias de investimento com regularidade hist\u00f3rica, mas, como a pr\u00f3pria hist\u00f3ria mostra, elas n\u00e3o s\u00e3o infal\u00edveis. Quem optou pelo investimento fundamentalista nos \u00faltimos vinte anos, pode ter se surpreendido com a ruptura econ\u00f4mica em que empresas de tecnologia como Amazon\u00a0e Google, por exemplo, n\u00e3o pararam de surpreender positivamente, finalmente turbinadas pelo COVID-19.<\/p>\n A literatura n\u00e3o para de evoluir e nos \u00faltimos anos nos mostrou que os indiv\u00edduos parecem ter um vi\u00e9s de comportamento chamado representatividade, na medida em que eles d\u00e3o peso excessivo \u00e0s \u00faltimas observa\u00e7\u00f5es. Se eles veem uma empresa que come\u00e7a a dar muito lucro, rapidamente podem ser sugestionados que essa empresa ser\u00e1 o novo Google e podem come\u00e7ar a atribuir pre\u00e7o excessivamente otimista a respeito de seus lucros futuros. Isso pode ser o catalizador de bolhas que uma vez se esvaem quando a realidade se imp\u00f5e.<\/p>\n Escrevemos o livro \u201cDecis\u00f5es Financeiras e o Comportamento Humano\u201d, que trata desses temas e d\u00e1 dicas de como evitar que certos impulsos e emo\u00e7\u00f5es imponham perdas que poderiam ser evitadas. Querem fazer cursos sobre como investir, v\u00e3o em frente. Mas, investidor, n\u00e3o esque\u00e7a de ponderar a sua tomada de decis\u00e3o.<\/p>\n *Igor Barenboim \u00e9 professor da Escola de Economia da FGV \u2013 S\u00e3o Paulo e S\u00f3cio da Reach Capital<\/strong><\/em><\/p>\n