{"id":495,"date":"2022-01-07T00:27:05","date_gmt":"2022-01-07T03:27:05","guid":{"rendered":"https:\/\/igorbarenboim.com.br\/?p=495"},"modified":"2022-03-30T18:01:51","modified_gmt":"2022-03-30T21:01:51","slug":"o-que-nos-dizem-os-preco-das-acoes-fonte-revista-exame","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/igorbarenboim.com.br\/pt-br\/o-que-nos-dizem-os-preco-das-acoes-fonte-revista-exame\/","title":{"rendered":"O que nos dizem os pre\u00e7os das a\u00e7\u00f5es (Fonte: Revista Exame)"},"content":{"rendered":"
Por: Igor Barenboim*<\/strong><\/p>\n O an\u00fancio do desejo do governo de rever o teto de gastos para cima foi a p\u00e1 de cal para o pre\u00e7o das empresas brasileiras. Elas est\u00e3o sendo negociadas a pre\u00e7os promocionais se levarmos em conta padr\u00f5es hist\u00f3ricos.<\/p>\n De fato, tivemos uma sucess\u00e3o de not\u00edcias negativas no \u00faltimo quadrimestre al\u00e9m do j\u00e1 anotado maior apetite para gastos p\u00fablicos por parte do governo. A lista de m\u00e1s not\u00edcias \u00e9 composta de pelo menos as seguintes pautas: (I) redu\u00e7\u00e3o do crescimento chin\u00eas por conta dos excessos no mercado imobili\u00e1rio, (II) redu\u00e7\u00e3o dos est\u00edmulos monet\u00e1rios nos pa\u00edses centrais por conta da infla\u00e7\u00e3o mais alta por l\u00e1, (III) aperto monet\u00e1rio relevante no Brasil por conta da infla\u00e7\u00e3o elevada com consequ\u00eancia negativa para o crescimento do ano que vem aqui nos tr\u00f3picos.<\/p>\n \u00c9 bastante vento contra, mas ser\u00e1 que o suficiente para justificar a liquida\u00e7\u00e3o corrente?<\/p>\n O ser humano tem alguns vieses comportamentais muito bem documentados.\u00a0 Por um lado, costumamos projetar o futuro extrapolando as tend\u00eancias correntes, ent\u00e3o se a vida est\u00e1 dif\u00edcil ficamos pessimistas e projetamos que isso deve perdurar. Por outro temos mem\u00f3ria curta e sempre damos peso para o evento mais recente.<\/p>\n Ent\u00e3o, s\u00f3 compramos seguro de viagem quando estamos no aeroporto, fazemos seguro de enchente depois que chove. E, quando enfrentamos uma crise, costumamos nos basear no \u00faltimo epis\u00f3dio para entender o que est\u00e1 ocorrendo.<\/p>\n As empresas brasileiras negociadas na B3 est\u00e3o valendo sete vezes o lucro delas projetado para o ano que vem. Contra um hist\u00f3rico m\u00e9dio de doze vezes. Uma outra forma de ver o n\u00famero \u00e9 lucro dividido pelo pre\u00e7o que d\u00e1 um percentual retorno impl\u00edcito de mais de 14% ao ano em termos reais, num mundo em que os juros reais ainda s\u00e3o negativos no mundo e as principais bolsas mundiais negociam pr\u00f3ximas dos seus picos, podemos dizer que vivemos uma aberra\u00e7\u00e3o na Ilha de Vera Cruz.<\/p>\n Analisando os pre\u00e7os pela lente dos vieses comportamentais que elencamos acima, de fato tivemos uma sucess\u00e3o de not\u00edcias negativas recentemente que nos colocou numa trajet\u00f3ria pessimista. Mas talvez mais importante do que isso, n\u00f3s novamente estamos sendo confrontados com o desafio fiscal que colocou o Brasil na pior recess\u00e3o e sua hist\u00f3ria que culminou com o impedimento da presidente Dilma. Nossa mem\u00f3ria \u00e9 muito tr\u00e1gica ao lidarmos com esse assunto.<\/p>\n Embora a quest\u00e3o fiscal seja importante e desafiadora, estamos vivendo um momento muito diferente de 2015\/2016. O teto mais alto ir\u00e1 representar um gasto maior em 1 ponto percentual do PIB e no novo regime, se aprovado pelo congresso, seguiremos com um mandamento constitucional travando o gasto. Isso \u00e9 diferente das sucessivas desonera\u00e7\u00f5es fiscais e pedaladas que deterioram nosso prim\u00e1rio em mais de 5 pontos percentuais do PIB na d\u00e9cada passada. Claro que \u00e9 uma deteriora\u00e7\u00e3o do quadro, mas diante do que t\u00ednhamos no meio da pandemia, estamos em uma situa\u00e7\u00e3o at\u00e9 favor\u00e1vel e penso que ainda contorn\u00e1vel.<\/p>\n Na \u00faltima crise econ\u00f4mica que tivemos antes do COVID, mergulhamos em uma recess\u00e3o profunda n\u00e3o s\u00f3 porque o estado teve que se retrair, mas porque a forma de fazer neg\u00f3cios no pa\u00eds foi questionada atrav\u00e9s da Lava-Jato com o encarceramento de atores macroeconomicamente relevantes no cen\u00e1rio nacional e a fal\u00eancia de empresas gigantescas. Agora teremos sim um crescimento p\u00edfio em 2022, talvez uma pequena recess\u00e3o, mas n\u00e3o uma destrui\u00e7\u00e3o permanente de capital como tivemos naquele epis\u00f3dio.<\/p>\n A queda de 25% na bolsa, leva em conta uma redu\u00e7\u00e3o permanente do crescimento potencial da economia brasileira e um aumento significativo e permanente do juro real muito provavelmente por conta de nossos vieses comportamentais de extrapola\u00e7\u00e3o de tend\u00eancia e representatividade dos \u00faltimos eventos. N\u00e3o estou convencido que o cen\u00e1rio que est\u00e1 nos pre\u00e7os seja o mais prov\u00e1vel. Penso existir bastante assimetria, afinal, independente do resultado da elei\u00e7\u00e3o ano que vem, todas as matizes partid\u00e1rias j\u00e1 aprenderam o valor da responsabilidade fiscal.<\/p>\n *Igor Barenboim \u00e9 s\u00f3cio diretor da Reach Capital e Professor da Escola de Economia de S\u00e3o Paulo da FGV<\/i><\/p>\n