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A crise dessa vez é diferente…

O economista e professor Igor Barenboim comenta sobre a crise que estamos enfrentando neste começo de 2020.

Dessa vez é diferente

• As últimas 4 principais crises mundiais vieram de choques de demanda
• Em 1929, houve um endividamento insustentável para comprar ativos como propriedades e commodities que alcançaram preços incompatíveis com as obrigações financeiras
• Em 1987, tivemos um mega endividamento para comprar ativos. A incompatibilidade financeira foi turbinada pela facilidade tecnológica de dar ordens de venda com rapidez e pelos derivativos.
• Em 2000 o Dot.com boom veio do endividamento sem geração de caixa de novo.
• Em 2008 a crise veio do endividamento dos NINJAs (Sem ativos e empregos) que não nunca geraram caixa para pagar as dívidas imobiliárias

Por que é diferente?

• Agora temos um choque de oferta.
• Num momento que tudo estava precificado pela perfeição.
• Com a pandemia a economia industrial para de funcionar direito por um tempo.
• Tudo que ficou barato nos últimos anos (produtos industrias) ficará escasso e mais caro

E a demanda?

• Temos também um choque de demanda negativa no setor de serviços
• Ou seja muito do que vinha ficando mais caro (serviços) vai sobrar: viagens, restaurantes
• Exceção: Serviços de saúde vão continuar demandados
• Temos também um choque de demanda positivo nos bens industriais que estão sofrendo um choque de oferta
• Tem risco de gerar alguma inflação para frente e reverter esse juro extremamente baixo no mundo.
• Risco do efeito ser grande não é alto , mas é um cenário possível que reprecificaria (sic) as ações de forma permanente para baixo.

Em resumo:

• Essa crise é diferente e está tendo um impacto de mercado diferente. Muito agudo! Por que? Provavelmente porque não tem política pública com solução imediata.
• Não basta um estímulo fiscal ou monetário contra-cíclico. A prescrição é parar a economia para mitigar a mortalidade. Então com o tempo a coisa se resolve provavelmente.
• Mas com várias vítimas no caminho. Vítimas humanas e vítimas financeiras.
• Não tem destruição permanente de capital, mas quem estava muito alavancado não deve sobreviver. Então a destruição se dará pelo canal da estrutura de capital. E muita gente estava alavancada porque tomar dívida estava muito barata. Muita empresa tomou dívida para recomprar ação nos últimos anos.
• O Brasil por outro lado estava começando o processo de alavancagem e deve sofrer menos economicamente. O risco é que um governo que estava arrumando a casa e que precisava do crescimento para se legitimar, não vai conseguir entrega-lo. A profundidade das perdas dos ativos financeiros no Brasil é maior provavelmente por razões técnicas. Pouca gente no país tem estômago para carregar perdas financeiras profundas.

Outros fatos importantes da semana

• Biden deu outro baile no Sanders na Mini Super Tuesday 10/03. Agora é estatisticamente muito improvável que o Sanders se torne o candidato democrata. Isso removeu um risco de cauda gigante para a economia mundial.
• Mesmo que o Trump perca (probabilidade subiu com a nova crise), perde para alguém do establishment.
• Arábia Saudita e Rússia não deram sinais que vão se entender em prazo curto e com isso as perdas no setor de energia irão continuar. Exacerbadas ainda pela fraca demanda por transporte de passageiros.
• Não bastasse a crise, os protestos continuam marcados para domingo e o congresso impôs uma derrota ao governo elevando o gasto com o BPC em 20 bi por ano como um primeiro item de uma pauta bomba. Mostrando que a situação da política interna não é ideal para lidar com a crise.