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Projeções para o ano melhoram, mas juros tendem a tirar fôlego de 2023

Por Marcelo Osakabe

Pesquisa do Valor realizada nesta semana aponta que mediana para o PIB de 2022 ficou em 0,8%, enquanto a de 2023 ficou 0,9%.

A melhora das perspectivas de crescimento para 2022 tem ocorrido conjuntamente com um movimento na direção contrária para o cenário de atividade em 2023. Para economistas, se as surpresas positivas com os indicadores do primeiro trimestre mostram uma economia mais aquecida que o esperado este ano, elas também empurram o Banco Central na direção de uma política mais restritiva, prejudicando o cenário à frente.

Na pesquisa do Valor realizada nesta semana, a mediana para o PIB de 2022 ficou em 0,8%, enquanto a de 2023 ficou 0,9%. Um mês atrás, o ponto médio para este e o próximo ano era de, respectivamente, 0,5% e 1,2%.

Para Arthur Carvalho, economista-chefe da Truxt, as revisões para cima do PIB deste ano refletem melhora não esperada do mercado de trabalho brasileiro.

A Truxt elevou de 0,5% para 1,0% sua estimativa para o PIB este ano, mas cortou de 1,0% para 0,8% a projeção para o ano que vem. Em boa parte, diz Carvalho, isso ocorre em função do patamar mais elevado da Selic que o BC terá que manter para fazer a inflação convergir à meta em 2024. O economista espera que a taxa de juros encerre o ano que vem em 11%.

Marco Caruso, economista chefe do Banco Original, acrescenta que, além das surpresas com os indicadores do primeiro trimestre, existe ainda a expectativa sobre qual será o impacto da liberação do saque do FGTS sobre a economia, que pode fazer sua projeção de 1,00% para este ano subir ainda mais. “Em uma conta simples, se 100% do FGTS resgatado for consumido, nosso número poderia subir entre 0,2 e 0,3 ponto porcentual”, diz.

A estimativa do Original só não é mais alta, diz Caruso, porque é esperado que o forte salto recente da Selic comece a fazer efeito a partir do segundo semestre, em uma intensidade crescente que atinge seu pico entre o quarto trimestre deste ano e o primeiro do ano que vem. Além disso, a inflação alta deve continuar a pesar sobre o poder de compra das famílias, ao passo que os benefícios da reabertura já terão se esgotado. “Por isso entendo que, na margem, quem está mudando o PIB está fazendo esse rebalanceamento”, afirma. O banco agora espera um PIB de 0,5% ano que vem – em abril, era 1,0%.

“Existe um fator determinante para essa mudança, que é a guerra entre a Rússia e a Ucrânia”, diz o economista-chefe da Reach, Igor Barenboim. “O conflito fez os preços das commodities ficarem muito altos e, nas nossas contas, cada 10% de alta desses preços se traduz em um acréscimo de 0,4 ponto porcentual sobre o PIB. É por isso que, num momento em que muitos países têm revisado para baixo suas projeções de crescimento este ano, o Brasil tem feito o oposto.”

Por outro lado, Barenboim ficou menos otimista com 2023 porque entende que os eventos favoráveis trazidos pelas commodities devem cessar à medida em que os preços voltem à média histórica, um efeito que se acrescenta à política monetária em campo restritivo por mais tempo.

As projeções da pesquisa Valor foram coletadas um dia antes da divulgação dos dados dos serviços, que vieram acima do esperado e levaram algumas casas, inclusive, a rever para cima a projeção de PIB neste ano.

“Revisamos nossa projeção para o crescimento em 2022 de 0,2% para 1,4% após a forte surpresa no crescimento do volume de serviços. De forma geral, o dado confirma a dinâmica muito melhor que o esperado da atividade, o que já era sinalizado por outros indicadores”, diz o relatório do banco, acrescentando que a melhora foi concentrada em setores fortemente afetados pela pandemia. “Para 2023, cortamos nossa projeção de expansão do PIB de 2,1% para 0,9% devido à nossa recente revisão sobre a perspectiva para a política monetária em 2023 e também a uma piora da expectativa para o crescimento global.” Nem todos os analistas acreditam em um 2023 mais fraco. Helcio Takeda, da Pezco, estima um PIB de 1,2% neste ano e 2,0% ano que vem.

Para ele, o próximo ano será beneficiado por uma conjunção de fatores. “Do lado da oferta, temos a expectativa de normalização das condições de oferta tanto da indústria quanto de serviços. Do lado da demanda, acredito que a desinflação abrirá espaço para recuperação dos rendimentos reais e retomada sustentada do consumo. Além disso, parte importante investimento contratado nos últimos leilões de infraestrutura começarão a ter efeito.”

Fonte: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2022/05/13/projecoes-para-o-ano-melhoram-mas-juros-tendem-a-tirar-folego-de-2023.ghtml