Ata mostra que Banco Central não deve subir Selic acima de 6,5%, diz Reach Capital
A ata do Copom aponta que o Banco Central não está disposto, ao menos no momento, a elevar a taxa Selic acima do nível de 6,5%, considerando as projeções do modelo do BC e o balanço de riscos para a inflação, além do duplo mandato da autoridade monetária, diz Igor Barenboim, sócio e economista-chefe da Reach Capital.
“No cenário básico do BC, as projeções do modelo apontam para uma Selic de 6,25% ao fim do ano para ancorar a inflação de 2022 na meta. Mas, como eles destacam que o risco para a inflação é altista por causa da questão fiscal, me parece que o natural seria promover mais três altas de 0,75 ponto percentual, mirando os 6,5%. Eles também sugerem que esse ciclo de alta pode ser mais rápido, abrindo a porta para elevar em 1 ponto, mas ainda buscando o patamar neutro”, aponta ele.
O ex-secretário adjunto de política econômica do Ministério da Fazenda, Barenboim chama a atenção para o objetivo secundário do BC, de fomentar o emprego e suavizar oscilações na atividade econômica, como um fator que deve influenciar a postura do colegiado na condução da política monetária.
“Colocar o juro acima de 6,5% significa ter uma política contracionista, o que implica em retrair a atividade. Na minha visão, seria um erro elevar a Selic para esse patamar porque, no nosso cenário, não temos uma recuperação econômica forte e sustentada, mas uma retomada cíclica, com um desemprego gigante. Não é desejável que a atividade econômica se contraia, mas apenas que pare de haver estímulos”, diz Barenboim.
“E, com uma grande incerteza no horizonte em razão do ciclo eleitoral, não vejo um PIB relevante em 2022. Então, não seria o caso de fazer um mega aperto monetário”, completa.
O profissional também ressalta o “risco estrutural” que o BC está correndo atualmente, dada a possibilidade que o projeto de autonomia da autoridade monetária seja derrubado a depender da decisão do Plenário Supremo Tribunal Federal (STF) sobre ação direta de inconstitucionalidade movida por PT e PSOL e avaliada como procedente pelo Procurador-Geral da República, Augusto Aras. Hoje, o julgamento está parado em função de um pedido de vista do ministro Luís Roberto Barroso.
“Acho que existe muita pressão vinda de todo o lado sobre o atual colegiado. Tanto desse lado político, que põe em xeque a autonomia da instituição, como do econômico, pelo qual uma atitude ‘hawkish’ demais, como quer o mercado, pode ter um custo muito elevado para o Brasil”, diz ele.
Barenboim também não identifica a necessidade de um grande aperto monetário pelo próprio caráter da inflação, ligada a choques de oferta, sobre os quais o Banco Central não possui controle. “Tudo o que o BC tem a fazer mesmo é mostrar que ele está comprometido com a meta de inflação, mas ele terá um custo se pôr esse juro a 7,5%: neste caso, ele terá uma inflação na meta, mas uma economia menor.”
Ele também menciona a possibilidade de o BC nem ter de fazer um ciclo de ajuste completo até o nível de 6,5%, dada a possibilidade do dólar continuar se depreciando e a recente acomodação nos preços das commodities, que favorecem uma inflação um pouco menos pressionada à frente.
“Com certeza, há ainda algum espaço para o dólar cair. Já tínhamos uma balança comercial forte, sobrava dólar, mas o que faltava era confiança, que era ameaçada pelo fiscal”, diz ele. “E as commodities interromperam o seu movimento de alta, mas se estabilizaram em patamares elevados. Vejo que, conforme as economias se reabrirem, teremos uma demanda maior por serviços, e menos por bens industriais. Isso é um padrão de comportamento que já tem sido visto nos Estados Unidos, podendo aliviar um pouco a inflação à frente e, também, o peso da inércia para 2022”, menciona.
Atualmente, a Reach Capital trabalha com uma previsão de Selic de cerca de 6,5% ao fim deste ano, uma inflação entre 5,5% e 6% em 2021 e, para 2022, um IPCA perto de 4%, levando em conta efeitos estendidos do risco hidrológico e a inércia inflacionária.
Fonte: Valor Investe.